terça-feira, 28 de julho de 2009

Como se ela fosse, agora, a minha mão


Deitada na sua cama, antes de dormir.
Você se lembra dos momentos de nós dois.
E desliza a sua mão
Pelo seu corpo como se ela fosse, agora, a minha mão.
E passa a lembrar de como era bom.
Ter todos os carinhos que trocamos e a sensação
De que você sente prazer com o simples toque da minha mão.
Seu pensamento viaja até a minha casa.
E, mentalmente, você me encontra deitado em minha cama.
Eu estou deslizando a minha mão pelo meu corpo
Como se ela fosse, agora, a sua mão.

Mas o que você não sabe e nem pode imaginar
É que agora eu estou mesmo deitado em minha cama.
E, antes de dormir, me lembro dos momentos carinhosos de nós dois.
Então, suavemente, eu deslizo a minha mão
Pelo meu corpo como se ela fosse, agora, a sua mão.
Eu vou imaginando como era bom.
Ter todos os carinhos que trocamos e a sensação
De que eu sinto prazer com o leve toque da sua mão.
E então, meu pensamento viaja até a sua casa
E minha imaginação a encontra deitada em sua cama.
Você desliza a sua mão pelo seu corpo como se ela fosse, agora, a minha mão.

Mas o que eu não sei e nem posso imaginar
É que você realmente está deitada em sua cama.
E que, antes de dormir, você relembra dos momentos carinhosos de nós dois.
E desliza a sua mão pelo seu corpo como se ela fosse, agora, a minha mão.

T_ E _ L _ E _ P _ A _ T _ I _ C _ A _ M _ E _ N _ T _ E

domingo, 26 de julho de 2009

Agradecimento aos santos e orixás

"Quando eu não era ninguém, era vento, terra e água.
Elementos em amálgama no coração de Olorum."
Jorge Pontual


Agradeço à incomparável Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de Deus e nossa, por todas as graças conquistadas. Sei que estás sempre comigo, protegendo a mim e a minha mãe, enquanto guarda o nosso lar. Deixando do lado de fora da casa todos os males que possam vir nos flagelar. Obrigado por nos proteger a cada dia, tornando-nos seres que prezamos pela virtude, pela ética e pelo eterno amor ao próximo. Assim como nos ensinou vosso filho, o Nosso Senhor, Jesus Cristo, que derramou na cruz seu preciosíssimo sangue para nos salvar. Agradeço-te e peço-te para que possamos sempre ver, amar e gozar na eterna glória, por todos os séculos.

Agradeço ao invencível e poderosíssimo Santo Guerreiro, São Jorge - Ogum. Que traz em seu rosto a esperança e a confiança, e que abre os meus caminhos. Porque estarei eternamente vestido e armado com as tuas armas, meu São Jorge. Para que os meus inimigos tenham pés, mas não me alcancem. Tenham mãos e não me peguem. Tenham olhos e não me enxerguem. E que nem pensamentos eles possam ter para me causar o mal. Sei que, vestido com tua armadura, as armas de fogo não alcançarão o meu frágil corpo. Facas e lanças atiradas contra mim se quebrarão sem o meu corpo tocar. Cordas e correntes arrebentar-se-ão sem o meu corpo amarrar. E quero pedir humildemente para que sempre me protejas da inveja alheia, estendendo sobre mim o teu escudo e defendendo-me com a tua força e grandeza. Obrigado por fazer com que nada de ruim me atinja. E que tu continues me estimulando com coragem e esperança, fortalecendo, assim, a minha fé a cada dia.

Agradeço à queridíssima Senhora de Todos os Raios, minha Santa Bárbara - Iansã. Por sentir-me acolhido e protegido quando no céu relampeia e quando teu clarão me ilumina. E, dessa forma, sei que para mim não haverá trevas ou escuridão. Dê-me a coragem dos teus relâmpagos para desbravar as tempestades da vida, e que a minha voz tenha a autoridade dos teus trovões. Por ser a deusa dos relâmpagos, estarei sempre ao teu lado, como era no princípio e também será no fim. Eparrê Oiá! Iansã.

Agradeço também ao bondoso Santo Antônio por todos os verdadeiros amores que pude experimentar. Peço-te para que me livre das pessoas que de mim se aproximarem com más intenções. E que aquelas que queiram brincar com os meus sentimentos, me iludindo com falsas paixões, passem bem distante do lugar onde eu estiver.

Agradeço à belíssima Mamãe Oxum pelas águas que bebo, pelas águas onde me banho e nas quais me purifico. Porque, desta forma, me torno um homem renovado a cada dia. E também dizer-te que viverás eternamente na fonte de cachoeira limpa e cristalina que brota dentro de mim. Ora Ieieu, Mamãe Oxum.

Agradeço ao adorado São Gonçalo do Amarante por acompanhar diariamente este povo tão sofrido de minha cidade cujo nome lhe honra homenagem. Peço-te para que amenize as dores de nossa gente tão humilde e sofrida, fazendo-nos ter mais esperança e força para enfrentar as mazelas que nos rodeiam.

Agradeço também ao glorioso São Sebastião da cidade do Rio de Janeiro. Obrigado por me ensinar a caçar apenas aquilo que irei comer, assim como faz Oxóssi. Agradecido pelo alimento diário que não me falta, peço-te para que nunca me falte aquilo que humildemente necessito para sobreviver. Que eu possa sempre recolher saborosos frutos das árvores fartas semeadas dentro de mim. Que Oxóssi, Cabocla Jurema e todo o povo da mata me protejam e me abençoem sempre porque sinto que as florestas são o meu lugar. Montado num cavalo e com um arco e flecha na mão, eu apenas agradeço. Okê Arô, Oxóssi.

Agradeço a São Cosme, São Damião e Doum por cuidarem tão bem desta criança que sempre fui. Peço-vos para que eu nunca perca a alegria da minha infância.

Agradeço à Mãe D'água e Rainha do Mar, Dona Yemanjá. Peço-te para que, assim como no reveillon e no Dia Dois de Fevereiro, esteja sempre com o teu povo praieiro. Queridíssima Sereia, obrigado por se importar conosco e por me ensinar o valor da música, que me traz tanta alegria. Odoyá!

Agradeço ao Nosso Senhor Jesus Cristo por me ensinar o que é o amor. Seu sagrado sangue derramado na cruz mostra-nos a obediência absoluta a Deus e nos traz a salvação e a paz suprema. Obrigado por me ensinar a amar o meu próximo e por fazer com que eu me enxergue nele. Porque sei que o outro tambám sou eu e. E não há diferença entre mim e ele.

Pai Nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós, ao vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres. Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores. Agora e na hora de nossa morte. Amém.






Apenas agradeço-vos por me iluminarem a cada dia.

Amém. E Saravá!

domingo, 19 de julho de 2009

Pra quê?

Deitar bem agarrado, sentindo o cheiro da pessoa amada até pegar no sono. Pra quê?

Pra quê?
Tremer quando chega ao lado da pessoa amada e fazê-la tremer com um simples toque de pele. Pra quê?

Pra quê?
Mentir no trabalho para ficar mais próximo de quem se ama. Pra quê?

Pra quê?
Andar de mãos dadas na rua, abraçar e beijar quem você sempre quis, sem se importar com quem está vendo. Pra quê?

Pra quê?
Tomar tantos banhos juntos e fazer questão de ensaboar cada parte do corpo do outro e depois fazer questão de enxugá-lo. Pra quê?

Pra quê?
Ser companheiro, ser amigo, ter carinho e ter respeito, e ter a certeza de que recebe tudo isso em troca. Pra quê?

Pra quê?
Conhecer tantas montanhas, tantas matas, praias e cachoeiras e ter a certeza de que Deus fez tudo aquilo para acolher o nosso amor. Pra quê?

Pra quê?
Trocar milhares de telefonemas, tantas cartas, tantos torpedos, tantos bilhetes, tantos beijos, tantas risadas e tantos "eu te amo". Pra quê?

Pra quê?
Assistir o show da Maria Bethânia, ver tantos filmes, ler tantas poesias e descobrir tantas coisas juntos. Pra quê?

Pra quê?
Transar com todo o desejo que já existiu, proporcionando à pessoa amada todo o carinho que ela merece. Pra quê?

Pra quê?
Conversar sobre qualquer coisa e ter a conciência de que o outro está falando a mesma língua que você. Pra quê?

Pra quê?
Sentir-se especial para alguém e saber que você estará para sempre eternizado dentro dele. Pra quê?

Pra quê?
Encontrar no outro uma saída, um refúgio no meio de tanta loucura, desespero e cansaço do dia-a-dia. Pra quê?

Pra quê?
Saber que existe alguém que pensa em você todos os dias e que, mesmo distante, se preocupa com você. Pra quê?

Pra quê?
Saber que tem alguém que não se importa se você é o mais bonito, o mais forte, o mais inteligente ou o mais rico, porque ele só faz questão de estar ao seu lado. Pra quê?

Pra quê?
Aprender a viver com o outro, espelhando-se no outro e erguendo-se juntamente com o outro. Pra quê?

Pra quê?
Dar sentido à grande aventura que é viver com alguém que está disposto a sempre lhe fazer feliz e que, ao mesmo tempo, é a pessoa mais feliz do mundo porque está ao seu lado. Pra quê?

Pra quê?
Conhecer o sabor dos dias de chuva; dos beijos de bom dia seguidos de um rouco, porém sincero, "eu te amo"; dos abraços calorosos; dos conselhos chatos, porém pertinentes; das risadas espontâneas; dos encontros tão esperados; dos infindáveis bilhetes espalhados pela casa; de todas as lágrimas sinceras derramadas e dos planos para o futuro. Pra quê?

Pra que era tudo aquilo? Pra quê?
Pra que tentarmos inutilmente colocar tudo o que vivemos dentro de uma caixa se sabemos que não vai caber?
Pra quê?

domingo, 12 de julho de 2009

Minha Infância

Já começo dizendo que sou pobre, pobre, pobre de marré, marré, marré. Eu sou pobre, pobre, pobre de marré-de-cy. E como todo menino pobre de São Gonçalo, eu brinco com os pés descalços na rua e no quintal com tudo aquilo que vou encontrando pelo caminho. O fato de eu ser um menino magro, descalço e com o peito nu, não faz de mim um garoto fraco. Muito pelo contrário. Eu brinco pisando com os pés descalços na mesma terra de onde brotam espadas-de-São-Jorge e Comigo-Ninguém-Pode. E eu me sinto um super-herói, apesar de ser uma criança como qualquer outra.

O meu maior desejo é subir na mangueira junto com a gata Xuxa, que é da minha avó. Mas como ainda sou muito pequeno e só tenho três aninhos, eu vejo as crianças mais velhas em cima da árvore e me imagino lá no alto daqui há uns anos. Enquanto não fico grande pra poder subir na árvore, eu pego um Playmobil e invento que ele sou eu e o coloco escalando uma planta qualquer. Quando crescer, a coisa que mais vou gostar de fazer será subir em árvores.

Continuo brincando entre Playmobil e plantas até que um beija-flor beija uma flor amarela que está bem em cima de mim. O pássaro mais legal que tem é o beija-flor porque ele fica parado no ar. Eu me distraio olhando o beija-flor até que Vovó Alaíde me chama pra beber Ki-suco e comer um pedaço de bolo que Tia Moreninha fez.
Como e bebo bem rapidinho e torno a brincar. Quer coisa mais legal que brincar? Como não tenho muitos brinquedos, eu abro a cristaleira velha de Vovó Alaíde com a alegria de quem descobre um baú de tesouros. Lá dentro tem um monte de coisas legais: carretel de linha verde, dados, broches, bolas de gude, fichas da Telerj, frasco vazio de perfume. Tudo serve pra brincadeira.

Depois eu volto pro jardim. Estou organizando uma corrida de caracóis. Vou catando cada um que encontro pelo caminho e os guardo dentro de uma caixinha de fósforos. Os caracóis andam muito devagar. Eu, não. Adoro correr no quintal e na rua. Às vezes eu corro tanto que chego a cair e machucar o joelho.
Quando me machuco, o choro é mais pra chamar atenção do que pela própria dor. Minha infância nunca tem dores. Mesmo quando alguma parte do meu corpo dói, minha Mãe me leva numa rezadeira aqui perto e ela dá um jeito.

Às vezes, quando eu apronto, faço pirraça e malcriação, Vovó Alaíde me dá correadas merecidas. Mas nem dói porque eu me enfio debaixo das cobertas e fico rindo. Mas quando ela me tranca no quarto, eu não gosto. Simplesmente fecho a cara e fico choramingando pela casa. Mesmo assim, tudo é brincadeira. Não demora muito pra que eu me esqueça das correadas e vá colar figurinhas no álbum usando arroz cozido feitos pela minha avó.

Vestindo apenas bermuda, estou sempre brincando no quintal com os meus bonecos dos Smurfs e do Topo Gigio. Até que chega um amigo chamando pra brincar na rua. Eu vou. Não sou de ficar pensando se devo ou não fazer algo. Ou faço logo, ou então não faço! Como numa vez que achei um boneco azul dos ursinhos carinhosos que não era meu. Não pensei duas ezes e cortei o cabelo dele só pra ver se ia crescer de novo.

Vontade de fazer xixi. Deve ter sido o Ki-suco. Só faço xixi embaixo da árvore porque acho que faz bem pra ela. Depois eu rodo um pião que ganhei na festa de São Cosme e São Damião. Também ganhei suspiro, doce de amendoim, cocada e jujuba. A vermelha é a mais gostosa.

Vovó Alaíde está na cozinha fazendo o almoço enquanto escuta a rádio-relógio. Minha Mãe está no quintal estendendo a roupa no varal. Eu acabei de ir até a cozinha e pegar uma caixa de fósforo. Quero fazer a mesma coisa que vi um adulto fazer. Risco o palito na caixinha e num instante sai fogo. Acabei de queimar o dedo e começo a chorar. Minha Mãe ouve o meu choro e vem correndo ver o que aconteceu. Depois de contar a ela o que fiz, minha Mãe me deu um beijo no dedo e me disse q a dor já tinha passado. E não é que passou mesmo! Minha Mãe sabe das coisas. Fui até o jardim, peguei uma flor, prendi no cabelo dela e dei-lhe um beijo na bochecha. Agoras ela acabou de colocar o LP do Tim Maia e está arrumando a sala. Eu estou sentado no chão que nem índio e a observo cantar. Minha Mãe é a mulher mais linda!

Daída chega e nós fazemos uma aranha cortando em tiras um frasco de desodorante e penduramos com uma linha pela janela para assustar as pessoas que passam na rua. A gente ri um bocado. Eu adoro fazer essas coisas. Adoro brincar. Adoro bichos. Eu tenho uma tartaruguinha, e gosto de brincar com ela. Também ganhei um pintinho numa vez que saí pra passear. E teve uma vez que eu achei uma joaninha e a coloquei dentro de um buraco num dos tijolos da parede da minha casa pra que também lhe servisse de casa.

Já é hora de tomar banho naquele banheiro perto da área. Aquela área me dá um pouco de medo porque foi lá que mataram um porco uma vez. Vovó Alaíde lava roupa no tanque aqui ao lado enquanto canta: "Porque Ele vive posso crer no amanhã. Porque Ele vive, temor não há. Pois eu sei que a minha vida está nas mãos do meu Jesus que vivo está". Eu demoro pra entrar debaixo d'água porque ela é muito fria. Minha avó me ensina uma reza pra fazer antes de entrar debaixo d'água: "Água fria, correntia. Corre de noite, corre de dia. Quando nasceu Jesus Cristo, filho da Virgem Maria. Livrai-me de frio, febre, todas dores e agonia". E como sou um menino muito corajoso e tomo banho pulando por causa da água gelada. E não posso esquecer de arregaçar e lavar bem a cabecinha do piru. Ainda não sei porquê.

Minha Mãe me enxuga com uma toalha e me veste com o uniforme do Externato Pericar. Agora é a hora do papá. Hoje tem a comida que eu mais gosto: arroz, caldinho de feijão e cocó. Pra beber tem suquinho de caju. Oba! Enquanto almoço, a gata costura entre as minhas pernas esperando que eu lhe jogue um pedacinho de frango. De vez em quando, eu jogo. Depois vem a sobremesa: Gelatina do Bocão Royal.

Hora de ir pra escola. Como é aqui perto, vou andando com minha Mãe até lá. No meio do caminho, eu paro e arranco uma flor pra levar pra Tia Madalena. Olho para o céu. Vejo algumas nuvens e alguns urubus. Pergunto: "Urubu, hoje vai chover?". Acho que ele disse que vai. Urubu é legal. Ele voa muito, muito, muito alto. Bem diferente do beija-flor, ele vai perto das nuvens. As pessoas querem me enganar dizendo que as nuvens são feitas de algodão. Eu já tô bem grandinho e sei que isso é uma grande mentira. Eu sei que elas são feitas de algodão-doce. Porque quem viaja de avião e sentir fome é só colocar o braço pro lado de fora e arrancar um pedaço da nuvem pra comer. Minha Mãe me garantiu que é verdade.

Na porta da escola, tem sempre um velhinho com uma barraquinha vendendo doces. Eu não gosto muito do pirulito do Zorro porque agarra nos dentes. Eu prefiro as tirinhas de bala Klep's.

Eu gosto de ir pra escola, mas tem criança que não gosta. Elas choram quando chegam lá. Eu acho que minha mãe queria que eu chorasse também. Eu não entendo. Mas toda fez que entro na escola carregando minha mochilinha e minha lancheira e olho pra trás, minha Mãe está com cara de choro. Não sei porquê ela faz isso. Acho que ela fica esperando pra ver se eu vou chorar. É quando eu olho pra ela e digo: "Pode ir embora, Mãe. Tchau!".

Eu gosto da escola porque lá no jardim de infância eu faço de tudo. Eu desenho, pinto, faço um colar usando macarrão e barbante pra mamãe depois usar, faço um bonequinho com massa de modelar. É bem legal. Não sei porquê tem gente que chora quando chega na escola se lá a gente só faz coisa legal.

"Ciranda, cirandinha. Vamos todos cirandar. Vamos dar a meia-volta. Volta-e-meia vamos dar". Eba! Hora do Recreio!! A hora do recreio é a hora mais legal. Só não foi legal quando Paulo Roberto pegou uma lagarta e queimou a mão. Nesse dia, eu fiquei muito assustado e senti dó dele.

No recreio, eu abro a lancheira e costumo comer Mirabel e beber Toddynho. Também brinco de Chicotinho Queimado. Eu adoro. "Chicotinho queimado é muito bom. Quem olhar pra trás leva um beliscão. Também adoro brincar de pique. Pique-pega, pique-alto, pique-esconde, pique-correntinha. Às vezes eu corro tanto que acabo caindo e ralando meus joelhos. Mas hoje não deu pra brincar no pátio porque choveu. Eu adoro quando chove e eu estou na escola. Porque minha Mãe vem me buscar com o guarda-chuva e nós voltamos pra casa bem agarradinhos pra chuva não nos molhar.

Enfim, sempre tem histórias legais da escola pra contar. Como numa vez em que eu fiquei triste na hora do recreio porque não tinha com quem brincar. Então, eu me sentei numa escada e fiquei lá, bem triste. Mas aí, Bianca, Lorena e Maycon, dentre outros alunos, vieram falar que eles eram meus amigos e pra eu não ficar sozinho e ir brincar com eles.

Mas, de todas as histórias da escola, a melhor, indiscutivelmente, é a do meu primeiro dia de aula. Quando minha mãe foi me buscar, no final da tarde, a diretora, Dona Jael, lhe chamou pra conversar. Minha Mãe ficou assustada, pois era o meu primeiro dia de aula no jardim de infância, e, ela temia o pior. A diretora contou pra minha Mãe que havia me perguntado se eu tinha ido à escola naquele dia pra brincar com as outras crianças. E eu respondi a ela que não. Respondi à diretora que eu tinha ido pra escola pra aprender o A-E-I-O-U. Minha Mãe ficou surpresa quando ouviu isso. Eu não sei o porquê. Não foi pra isso mesmo que ela me colocou na escola? Então, eu queria aprender logo.

A minha vontade de aprender a ler e começar logo a escrever sempre foi muito grande. Todo mundo percebia isso. Como numa vez, ainda com três aninhos, em que nós fomos à casa de uma amiga chamada Heloísa. Chegando lá, eu pedi um papel e uma caneta e, em seguida, escrevi a palavra MAUÁ. Minha Mãe e Heloísa ficaram espantadas porque eu não estava na Alfabetização e nunca ninguém havia me ensinado a escrever nem uma letra sequer. Minha Mãe, na hora, ficou toda arrepiada. Elas me perguntaram onde foi que eu aprendi a escrever aquilo. Então, eu respondi que vi aquela palavra escrita num ônibus a caminho da casa de Heloísa. E, chegando lá, foi só desenhar as letras num papel.

Quando eu volto pra casa, torno a brincar na rua. Corro descalço, junto areia com os pés. Eu adoro brincar de me sujar. Como numa vez no Carnaval, ainda com três aninhos, eu, Maycon, Thiago e Dyego pintamos nossos corpos com carvão e, vestindo roupas rasgadas, saímos no Bloco do Goroeste lá na rua mesmo. Eu tambémo jogo futebol, pulo oito casas da amarelinha até chegar no céu, jogo bola de gude, pulo corda, bebo café-com-leite que Tia Dite fez, peço pra alguém queimar barbantinho cheiroso na varanda pra mim, e me distraio vendo as figuras de um livrinho da Turma do Lambe-Lambe.

Vou à cozinha e vejo Vovó Alaíde preparando o café com um coador de pano. Ela me ensina a comer ovo do jeito que Colombo gostava: cozido e com sal. É uma delícia. Ela também me oferece chazinho de Santa Maria feito com galhinhos e folhas retirados do quintal. Eu adoro o chá de Santa Maria, portanto, eu sempre quero.

De volta ao quintal, tem a brincadeira de passar o anel. Tem que adivinhar na mão de quem que tá o anel. É legal. "O anel que tu me deste era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou".

Volta a chover. Brinco que meu primo Dyego está doente. Ele se deita num sofá na varanda. Eu recolho água da chuva num copinho, invento que é um remédio e lhe dou para beber.

Já é de noitinha. Ainda chove. Estou no quarto, com as luzes apagadas, brincando de cabra-cega com Thiago, Dyego e Rosana e Daída. Tá chovendo lá fora. Começa a dar trovoadas e nós paramos de brincar. Eu tenho medo das trovoadas. Eu acho que Papai-do-céu tá brigando.

Na cozinha, ainda com cheiro de café, Vovô Peixoto entra sem acender a luz e eu vou seguindo. Ele coloca café no seu copo mais açúcar. Eu lhe peço a bênção: "A bênça, Vovô Peixoto!" Depois que eu lhe beijo a mão, ele diz: "Deus te abençõe, Cabeça de boi." Depois ele vai pra varanda e eu vou atrás. Ele acende um cigarro e eu brinco de espalhar a fumaça. Alguém grita pra que eu saia de perto da fumaça do cigarro. Não sei o porquê. Então eu entro e fecho o trinco da porta.

Vou até a sala. Gosto de ver televisão. Já sei até ligar. Primeiro tem que girar o botão e depois mexer com o Bom-Bril na ponta da antena pra que a imagem, em preto e branco, fique sem chuviscos.

Quando não está chovendo à noite, eu costumo ver balões no céu e depois de apontar-lhe o dedo dizendo "Primeiro mestre, licença!", eu costumo cantar: "Cai, cai balão. Cai, cai balão. Aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá. Tenho medo de apanhar."

Hora de dormir. Eu, Thiago, Dyego e Vovó Alaíde vamos todos pro quarto. Nós ficamos deitados nas camas conversando com a luz apagada e a claridade que vem do lado de fora da janela. Como o sono não vem facilmente, Vovó Alaíde começa a cantar baixinho: "Dorme, neném. Que a Cuca vem pegar. Papai foi pra roça. Mamãe, pro cafezal." Seguida de: "Boi, boi, boi. Boi da cara preta. Pega o Juninho que tem medo de careta." Só que ninguém dorme tão fácil.

Então, Vovó Alaíde fala pra ficarmos calados e sem darmos um "piu". Até que alguém fala "Piu". Todo mundo ri. Thiago fala: "A vaca amarela cagou na panela. Quem falar primeiro, come todo o cocô dela." Alguém se esquece e fala alguma coisa. Todo mundo ri de novo. Até que Vovó Alaíde pede silêncio e começa a rezar, pois lá fora o galo já dá suas primeiras cocorocadas. Então, minha avó pede pra nós repetirmos junto com ela: "O Senhor é o meu pastor e nada nos faltará. Senhor, abençoai este sono que vamos dormir. Amém, Jesus." Todo mundo fica em silêncio e respeita o menino Jesus. É quando, abençoados por Ele, todos nós pegamos no sono. Inclusive eu. Nesta noite, certamente sonharei que estou voando. Nas alturas como um urubu, mas com a leveza de um beija-flor.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Homenagem à Monique Guedes


Tem alguns professores que não esquecemos nunca. Como a Tia Madalena do jardim de infância, a Tia Márcia da Alfabetização ou a Tia Lourdes da Catequese. Enfim, todos os professores são importantes.
Mas eu tive uma professora em especial por quem serei eternamente grato. Eu cursava Letras na Universidade Estácio de Sá e tive aulas de Psicologia da Educação, Cultura Clássica e Filosofia Poética e Estética com esta professora. Ela se chama Monique Guedes.
Além de me ensinar o que era exigido em sala de aula, ela foi além. Monique, além de minha professora, foi minha amiga e me apresentou coisas importantes na minha vida como alguns diretores de filmes como Stanley Kubrick, Luís Buñuel e Lars von Trier; alguns dos principais filósofos como Platão, Hegel e Nietzsche; além de Mitologia Grega; Ópera; Música Erudita (Häendel), dentre outras coisas numa lista infindável que aprendi com ela.
Depois de quatro anos sem termos qualquer tipo de comunicação com Monique, que estava em São Paulo, resolvi, no início de 2009, enviar-lhe um e-mail informando sobre o meu ingresso na universidade Federal Fluminense. E é maravilhoso perceber que, apesar da distância, ainda somos amigos. Pois é para se considerar amigo aquela pessoa que sente-se feliz com a felicidade do outro.
Hoje é o dia do aniversário de Monique Guedes e venho aqui prestar-lhe esta modesta homenagem. Apesar de ter sido ela mesma quem me disse que o tempo, como bem o conhecemos, é uma invenção do homem, podendo hoje não ser o dia do seu aniversário. Por todos estes questionamentos que se instalaram em meu pensamento, eu lhe agradeço, Monique.
E dizer-lhe que independentemente de data ou distância, você terá sempre uma fundamental importância em minha vida, sendo como uma espécie de divisor de águas. Graças a você e as suas aulas, eu saí de dentro da CAVERNA da alegoria de Platão.
Portanto, desejo-lhe eternamente toda a felicidade que você realmente merece. Fiz esta imagem acima chamada "Monique no Rio" para que venha para cá, pois quero ansiosamente contar-lhe as novidades.
Com todo a gratidão, amor, carinho e respeito que um aluno deve ter para com seu verdadeiro MESTRE, eu lhe agradeço.
Mil Felicidades hoje e sempre,
Jurdiney Junior