sábado, 12 de junho de 2010

Brasilidade


Eu sou o índio guerreiro da raça tupi
Eu sou o som dos atabaques de Aruanda
Eu sou a mesa posta de umbanda
Eu sou o serafim da procissão do interior
Eu sou o oco do bambu
Eu sou tupinambá que vigia
Eu sou o caboclo daqui
Eu sou o que foi gasto das sandálias de Lampião
Eu sou o calor que vem das fogueiras de Junho
Eu sou a salva de fogos nas noites de São João
Eu sou as flores lançadas ao mar para Iemanjá
Eu sou a ave frágil que “avoa” no sertão
Eu sou os quatro elementos
Eu sou a rede amarrada ao coqueiro de Itapoã
Eu estou no tabuleiro da baiana na ladeira do Pelô
Eu sou o céu de Brasília com os traços de Niemeyer
Eu sou o chimarrão e o vatapá
Eu sou boi caprichoso e boi garantido
Eu sou o iê-iê-iê do Roberto
Eu sou os balangandãs de Carmen Miranda
Eu sou o pentacampeonato da seleção brasileira
Eu sou o bloco de carnaval
Eu sou devoto de Nossa Senhora Aparecida
Eu sou o sincretismo religioso
Eu sou a fé para todos os santos
Eu sou o romeiro de Padre Cícero
Eu sou o boiadeiro que leva os seus bois pra invernada
Eu sou o frevo, o maracatu, a marujada, o congado, o coco, a embolada, o xaxado, o baião, o forró pé de serra, a festa da uva, o jongo, o fandango e a vaquejada
Eu sou o samba, o samba-reggae, o samba-rock, o afrossamba, o semba, o afoxé, os pontos, o axé music, o samba de roda, o samba de breque, o samba de partido alto, o samba de raiz, o samba-canção, o samba de uma nota só, a bossa nova e as marchinhas de carnaval
Eu sou o som do berimbau, do pífano, da rabeca, da zabumba, do triângulo, do pandeiro, da sanfona, da viola caipira, do ganzá, do cavaquinho, da cuíca, dos atabaques, do xequerê, do gonguê
Eu sou o canto das três raças
Eu sou sertanejo, caipira, brejeiro
Eu sou o dono da terra
Eu sou o canto misterioso da Iara
Eu tenho medo do boto cor de rosa, do saci, do boitatá, da mula sem cabeça, da cuca e do lobisomem
Eu sou o bolo de fubá feito pela vovó
Eu estou nas ocas, nas palafitas, nos cortiços, nos barracos, nos bangalôs, nas casinhas de sapê, nos arranha-céus das metrópoles, nos condomínios de luxo, debaixo dos viadutos
Eu sou o melhor e o pior do Brasil
Eu sou o processo de favelização dos grandes centros urbanos
Eu sou a lata d’água na cabeça
Eu sou o gingado, a malemolência, o suingue e o borogodó
Eu sou o carioca malandro e boêmio da Lapa
Eu sou o próprio jeitinho brasileiro
Eu sou o cheiro doce da frutinha muçambê
Eu sou o próprio sotaque nordestino
Eu sou água e folha da Amazônia
Eu sou a Mata Atlântica, a Caatinga, o Cerrado e o Pantanal
Eu sou aquele cheiro doce lá da mata
Eu sou água limpa da cascata
Eu sou o verde dos cafezais
Eu sou o perfume de madeira
Eu sou vida, sou pureza, amor que não se desfaz
Eu sou água de cachoeira. Ninguém pode me amarrar
Eu sou açaí, tucupi, tacacá
Eu sou a mosca que pousou em sua sopa
Eu sou a manteiga de garrafa
Eu sou a tristeza de quarta-feira de cinzas
Eu sou a esperança de um país melhor
Eu sou as cirandas, as ladainhas, as quadrinhas, as cantigas de ninar
Eu sou o cheiro dos livros desesperados
Eu sou os braços abertos sobre a Guanabara
Eu sou de Oiapoque ao Rio Chuí
Eu sou o Cruzeiro do Sul
Eu sou negro demais no coração
Eu sou a esquina da Rua Ipiranga com a Avenida São João
Eu sou o início, o fim e o meio
Eu sou o coração do meu Brasil
Eu sou o verde e o amarelo
Eu sou a miscigenação
Eu sou a pluralidade
Eu sou a diversidade
Eu sou a Brasilidade
Eu sou o orgulho de ser brasileiro

Rumo ao Hexa, Brasil!